Salmo 2 –
A Coroação do Ungido de Deus
O livro dos Salmos é o próprio coração da
Bíblia. Os Salmos contém as orações que Deus atende porque foi Ele mesmo quem
as inspirou. É o fundamento de uma religião viva. São 150 orações inspiradas
que nos ensinam como orar e como nos relacionar sinceramente com Deus.
Os Salmos são a maior fonte poética para
penetrarmos no conhecimento de Deus. Eles contém mensagens de ânimo e
encorajamento para o povo de Deus em nosso tempo. Eles contém mensagens de fé,
esperança e vitória. Ali nós encontramos o segredo da verdadeira religião, que
é a religião do coração. Temos ali na beleza da poesia, a história passada dos
atos salvadores de Deus e a promessa segura de um futuro eterno.
Temos ainda no Livro dos Salmos o ensino de todas
as doutrinas da Bíblia. Nele encontramos a doutrina da Criação, da
Redenção e da Preservação. Os atributos comunicáveis e incomunicáveis de Deus
estão claramente expostos. As expressões do caráter de Jeová Se encontram ali,
a Sua justiça, a misericórdia e a graça, bem como a Sua onipotência,
imutabilidade e eternidade. Os Salmos nos falam sobre o Santuário, a Lei de
Deus, o Juízo final, a Salvação e a Cruz. Ali encontramos a doutrina da
Mortalidade da alma, da Ressurreição e a esperança da Vida Eterna. Ali
encontramos o verdadeiro conhecimento de Deus e de Jesus Cristo.
O Salmo 2 foi chamado "A
Canção do Ungido do Senhor" e foi citado no Aleluia de Handel. O Salmo 2 é
o primeiro salmo messiânico e apocalíptico, porque contém uma
revelação surpreendente de Cristo tanto do passado como para o futuro.
Portanto, a sua mensagem é cristocêntrica e escatológica, e foi citado pelo
apóstolo João no Apocalipse, com duas referências ao governo justo de Cristo
contra os ímpios habitantes da Terra. Davi, que escreveu este Salmo (At 4:25) e
mais outros 72, é o suave cantor e pastor de Israel.
I – REBELIÃO UNIVERSAL (1-3)
1. O Salmo 2 começa com duas perguntas: (v. 1).
(1) A 1ª pergunta: "Por que se
enfurecem os gentios?"
(a) Os gentios estavam irados. Esta era a
atitude das nações idólatras no tempo de Davi. Eles estavam enfurecidos. A
prova disso estava nas guerras com que se envolviam para matar e roubar. A ira
das nações se manifesta nas guerras; a ira dos estados se manifesta nas
revoluções; a ira dos indivíduos se manifesta nas brigas. É a rebelião
universal.
(b) Esta é uma profecia muito atual que
se cumpre em nossos dias. A Bíblia diz que no tempo do fim as nações se
enfureceriam (Ap 11:18). Disse Cristo que antes de Sua vinda surgiriam
"guerras e rumores de guerras... Porquanto se levantará nação contra
nação, reino contra reino." (Mt 24:6-7). Portanto, isso indica que estamos
no tempo do fim, que se apressa a passos largos, culminando na destruição do
mundo e dos pecadores.
(c) Mas a pergunta mais perscrutadora é "por
quê?" Por que se enfurecem os povos, as nações e os homens em geral?
Por que estão irados? A resposta já está implícita na pergunta: não há nenhuma
razão para ficarem irados. Deus perguntou a Caim: "Por que andas irado? E
por que descaiu o teu semblante?" (Gn 4:6). Ele perguntou a Jonas: "É
razoável essa tua ira?" (Jn 4:9). É racional mostrar toda a sua ira? Aonde
isto o levaria? É irracional resolver as coisas com ira! Quando você encontra
alguém que não respeita os seus limites, como você reage?
(2) A 2ª pergunta: "Por que os
povos imaginam coisas vãs?"
(a) A palavra "imaginam" é a mesma
palavra traduzida por "medita", no original do Sal. 1:4. O justo
medita na Lei de Deus. Os ímpios também "meditam", e como resultado,
ficam furiosos. A ira é um sentimento interno que se demonstra externamente,
mas se origina nas meditações secretas do coração.
(b) Deus
conhece a revolta de dentro do próprio coração dos rebeldes, que por
sua vez "imaginam coisas vãs". A imaginação, se não for direcionada,
pode se desviar da justiça para as coisas vãs. É inútil se revoltar, é inútil
revelar a ira de dentro do coração.
2. Contra quem os gentios estão
revoltados e irados? V. 2-3: "Os reis da
terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu
Ungido." Reis e príncipes, ou governantes em geral, foram colocados em elevadas
posições pelo próprio Deus (Rm 13:1,4). No entanto, esses mesmos que receberam
de Deus a honra estão desonrando o seu Benfeitor.
(1) Os reis estão revoltados
contra o SENHOR. A palavra SENHOR é
tradução de Yahweh, e significa "o Eterno", "Aquele que vive por
Si Mesmo". Jehovah, é o grande, o glorioso e incomunicável nome de Deus, e
é expressivo de Seu Ser eterno e auto-existência. Ele tem esse nome de modo
exclusivo, porque só Ele possui esta qualidade.
Então, esses reis e príncipes estão se revoltando
contra Alguém que é o próprio Eterno. Portanto, eles estão se
irando contra a Pessoa errada, porque estão em completa e esmagadora
desvantagem. Como pode alguém de posição privilegiada e conhecimento se
revoltar contra Deus? Eles estão revoltados contra Jeová, o Eterno, o próprio
Criador. Este é o mistério da iniquidade.
(2) Os reis e príncipes estão revoltados
contra "o Seu Ungido". Quem é
o Ungido de Deus? Ungido é a tradução de "Messias" no hebraico e
"Cristo" no grego. A Bíblia diz que o Ungido seria o Senhor Jesus
Cristo. Daniel já falava dEle como o "Ungido, o Príncipe" (Dn 9:25).
Ele é 'Miguel, o grande Príncipe, o Defensor dos filhos do teu povo" (Dn
12:1).
3. Mas, como podem reis e príncipes
conspirar contra Deus e o Seu Ungido? Eles
não estão seguros no Céu? Como podem fazer complôs e se levantar contra Eles? Herodes
o grande, o rei da Judéia, tentou tirar a vida de Jesus na Sua infância; o
rei Herodes Antipas, o tetrarca da Galiléia, com seus homens de
guerra zombaram dEle, e O desprezaram; Anás e Caifás se
reuniram em concílio para decidirem o que fariam para tirar a vida de Jesus. Pôncio
Pilatos, o governador da Judéia, que representava o imperador romano,
condenou-O à morte. E todos os reis da terra desde os mais remotos tempos, que
se levantaram contra Deus e contra o Seu Ungido na pessoa do Seu povo, em
guerras, perseguições e massacres, cumpriram esta profecia.
4. O que eles estão "dizendo"? V.3:
"Rompamos os seus laços". As palavras revelam o caráter; podemos
saber o motivo da rebelião por suas palavras. Eles dizem: "Rompamos os
seus laços e sacudamos de nós as suas algemas." Laços e algemas são
uma referência às leis de Deus. Eles não querem se submeter à Lei de Deus
que é uma lei de amor e sabedoria e que promove a felicidade. Eles rejeitam as
regras e as leis de Deus. Eles querem plena liberdade.
(1) Este é o grande conflito dos séculos que Satanás está promovendo, desde o
começo. Ele não queria que Deus governasse sobre ele. Ele teve inveja de
Jesus Cristo porque Ele foi escolhido, honrado e ungido como o Filho de Deus.
Lúcifer disse que as leis de Deus eram restrições injustas e desnecessárias.
Assim ele espalhou esse argumento no Céu. E muitos se uniram a ele. É o
princípio do antinomianismo: falta de lei. É o princípio da anarquia: não
querem que Deus seja rei sobre eles, e vem o caos. É auto-deificação: quando os
homens rejeitam as leis de Deus, se deificam a si mesmos, fazendo suas próprias
leis.
(2) Hoje não é diferente de antigamente. Os governantes fabricam as suas leis e se
insurgem contra a Lei de Deus, e é por isso que falta a justiça e a verdade
anda tropeçando pelas praças. E como um resultado, a insatisfação cresce de uns
para com os outros e a revolta se multiplica. As multidões estão "sem ar,
sem luz, sem razão", para usarmos as expressões de Castro Alves.
(3) Com efeito, não há razões palpáveis para ficarem irados e revoltados contra Deus.
Não há motivos nem para os reis nem para os príncipes, nem para as nações
fazerem levantes nem conspiração contra o Senhor da Terra. Também não há
motivos para você ficar revoltado.
(4) Você conhece alguém revoltado contra Deus? Conhece algumas pessoas que
falam contra Deus e contra o Senhor Jesus Cristo? Eles apresentam as suas
acusações, falam da injustiça e dos atos e "omissões" de Deus. Falam
do avanço da ciência e do neodarwinismo. E ficam nervosos se você tentar convencê-los,
eles ficam irados, enfurecidos se você os desmascarar, apresentando a
inteligência da necessidade de um "designer inteligente". Você não
vai convencer a uma pessoa irada, enfurecida e revoltada. Ela sempre tem razão,
embora agindo irracionalmente.
II – A INDIGNAÇÃO DIVINA (4-5)
1. Qual a reação de Deus? V.4:
"Ri-se Aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles."
(1) Este é um aspecto interessante da personalidade de Deus. Temos ouvido acerca
dos atributos divinos, mas é difícil ouvirmos que Ele se ri. Eu gosto desta
expressão que indica que nós temos um Deus um tanto humorístico, um Deus que
reage, que tem sentimentos, muito diferente dAquele Deus impassível que nos
pintam muitos teólogos. Entretanto, as Escrituras nos tem retratado a
personalidade divina desse modo mais relacional. Este é um aspecto
antropomórfico, visando explicar o sentimento de Deus em linguagem humana.
(2) Pode
imaginar o Deus Todo-poderoso olhando
para esses fracos humanos conspirando contra Ele? Pode imaginar o Criador contemplando
estas pobres criaturas revoltadas e levantando os seus punhos em luta contra
Ele? Pode imaginar as infinitas desvantagens nas quais se encontram esses
rebeldes? Como podem finitos mortais se levantar contra o Eterno e infinito
Deus? Não poderia ser diferente. Se é Deus que os contempla, só pode mesmo se
rir e zombar da pretensão desses ímpios.
2. Qual é a outra reação de Deus? V. 5: "Na sua ira, a seu tempo,
lhes há de falar e no seu furor os confundirá."
(1) Aqui está a ira de Deus. Este
é um segundo antropomorfismo: temos que explicar a Deus na
linguagem humana; não há outro meio, porque não entenderíamos a
linguagem dos anjos. Mas mesmo os anjos não teriam muito a nos dizer porque
eles também não conheciam este aspecto do caráter de Deus e de Sua reação.
Antes do pecado, Deus nunca Se manifestara com ira; isto é novo até mesmo para
os anjos.
(2) O que é a ira de Deus? Se os gentios se enfureceram, se as nações
estão iradas, agora é a vez de Deus revelar a sua ira. O homem foi feito à
semelhança de Deus e como nós temos ira, Deus tem ira. Mas qual é a diferença
entre a ira de Deus e a ira do homem? A ira do homem é motivada pelo pecado; a
ira de Deus é motivada pela santidade. A ira do homem é uma paixão irracional e
descontrolada, visando a vingança; a ira de Deus é um princípio controlado,
racional, visando a justiça. A ira do homem revela injustiça; a ira de Deus
revela Sua inescapável justiça.
(3) Quando será o Dia da Ira de Deus? Diz o salmista Davi que ela se demonstrará
"a seu tempo". Sabemos que esse tempo será pouco antes da volta de
Cristo, o Seu Ungido, e se revelará nas 7 Últimas Pragas que
sobrevirão ao mundo. Hoje vemos que a ira de Deus está mesclada com a misericórdia.
Mas isto é apenas por esse tempo de graça, enquanto temos oportunidade de nos
arrepender de nossos pecados e nos levantar a favor do nosso grande Deus e de
Jesus Cristo. Mas naquele tempo a Sua ira se revelará sem misericórdia, e todos
os ímpios habitantes da terra serão destruídos. E todos proclamarão a justiça
do Rei do universo.
III – A UNÇÃO DO REI (6-9)
1. Até o v. 5, falava Davi. Agora, Deus está falando. O que Ele
está dizendo? "Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o Meu santo monte
Sião." (v. 6). A palavra "Eu" se refere a Deus o Pai que
diz: "Eles estão irados e insatisfeitos com a Minha lei e com o Meu
Ungido. Eu, porém, constituí o Meu Rei".
2. Deus tem o Seu Rei teocrático.
Ele vai estabelecer um reino universal sobe esta Terra, em
breve. O seu Rei a quem Ele escolheu já foi constituído. Ele estará sobre o monte
Sião. Sião era a fortaleza de Jerusalém; sobre o monte Sião estava
edificada a cidade de Jerusalém terrestre. O monte Sião é descrito como
habitação de Deus, o Céu dos céus (Hb 12:22; Ap 14:1). Lá estará o Rei
constituído por Deus. Lá Jesus Cristo foi constituído como o "Rei dos Reis
e Senhor dos senhores". Esta é uma mensagem poética, mas também profética
e escatológica.
3. Mas
agora, é a vez do Rei ungido falar. V.
7: "Proclamarei o decreto do
SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei." Aqui o próprio
Messias está falando ao proclamar o decreto de Deus o Pai. Este é um decreto
eterno e imutável, estabelecido por Deus diante de todo o universo. Qual é o
decreto? Deus Se revela como o Pai do Messias e diz para o Seu escolhido:
"Tu és o Meu Filho! Eu, hoje, Te gerei!"
(1) O que significam estas palavras? Porventura Deus gerou a Jesus Cristo,
originando o Filho de Sua própria natureza? Estaria certa a mitologia grega que
ensinava que os seus deuses eram gerados entre si mesmos, como acontece com a
família humana?
(a) Foi
o próprio Diabo que inventou toda essa estória, e torceu as
Escrituras, de tal modo que mesmo hoje muitos estão ensinando que
Jesus Cristo é o Filho de Deus no sentido restrito da palavra, no sentido
humano. Eles dizem que Jesus Cristo Se originou da natureza de Deus, que o
Soberano gerou literalmente a Cristo, dando-Lhe origem de existência.
(b) Entretanto,
esta interpretação é equivocada. Precisamos
interpretar a Bíblia nos termos da Bíblia, considerando os antropomorfismos,
que são, como vimos, a descrição de Deus na linguagem humana. Os profetas
jamais poderiam usar linguagem divina, porque eles nem a possuíam e nem nós a
compreenderíamos.
(2) Em que sentido Jesus Cristo foi
"gerado"? Em que sentido Cristo é o Filho de
Deus? Poderia ser Ele "gerado" por Deus, no sentido humano da
palavra? É impossível interpretar literalmente estas palavras, porque a própria
Bíblia testifica que Jesus Cristo é eterno, imortal, incriado e sem origem (Jo
1:1-3). Ele jamais Se originou em qualquer tempo da eternidade. Ele sempre
existiu e sempre existirá.
(3) Como
podemos interpretar corretamente o
Salmo 2:7? Consideremos a explicação baseada num paralelismo bíblico. Se
tivermos o apoio de outros escritores inspirados,
conheceremos a devida significação.
(a) Em At 13:33, Pedro disse que Deus
ressuscitou a Jesus Cristo e cumpriu o Salmo 2:7. Paulo também tem o
mesmo pensamento, e disse que Cristo "foi designado ('constituído', BJ)
Filho de Deus ...pela ressurreição dos mortos". (Rm 1:4).
(b) Em Heb 1:5, Paulo aplica as mesmas
palavras de Davi para a divindade de Cristo, comparando-O aos
anjos, quando disse: "Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho,
eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?"
(c) Mas em Heb. 5:5, Paulo introduz um novo
significado: Ele diz que quando Cristo foi constituído Sumo Sacerdote,
cumpriu-se mais uma vez o Salmo 2:7.
(d) Mas há um outro sentido em que
estas palavras foram usadas, e que corresponde mais diretamente ao sentido e ao
contexto do Salmo 2:7. Natã recebeu uma palavra de Deus que
dirigiu a Davi, referindo-se a Salomão, e usou a mesma linguagem do Sal. 2:7:
"... Eu estabelecerei o seu trono para sempre. Eu lhe serei por Pai,
e ele me será por filho." (1Cr 17: 12-13). Estas
palavras tiveram um cumprimento parcial através de Salomão, que foi constituído
rei por ordem de Deus, que por esse fato, o chamou de "filho" de modo
especial e incomum, porque o constituía como rei de um reino teocrático. Mas
Salomão era um tipo de Cristo. Portanto, estas palavras em sentido secundário,
se cumprem em Cristo, como Rei que reinará para sempre. Desse modo, o Sal. 2:7
nos diz que Cristo é o Filho de Deus, que foi "gerado"
simbolicamente, porque foi ungido como Rei sobre todos os reis da Terra.
(4) Portanto, estas palavras do Sal. 2:7 foram interpretadas pelos apóstolos como se
referindo à ressurreição, à divindade e
ao sacerdócio e vemos agora, no Antigo Testamento que
estas palavras do se aplicam também ao reinado de Cristo e,
consequentemente, confirmam a Sua natureza não originada. Desse modo, sempre
que temos uma unção de Deus a Jesus Cristo, cumprem-se as palavras do Sal.2:7.
(5) Portanto, quando Deus disse: "Tu és o Meu Filho; Eu, hoje, Te
gerei!" dirigiu-se ao Messias, e emitia o Seu decreto de filiação real
para uma Pessoa já existente, não de um ser que nascia de Sua
natureza divina. Não era uma filiação literal do
tipo humano que ocorria, era a linguagem figurada de uma filiação real,
quando Deus constituía ao Messias como o Rei das nações. Assim aconteceu com
Salomão e assim sucedeu com Jesus Cristo.
(6) Quando foi o Messias "gerado"? A
resposta do texto é "hoje". Pelo contexto, "hoje" se
refere a um ponto histórico, quando as nações da Terra já conspiravam
"contra o Senhor e contra o seu Ungido". Num momento da História, quando
já existiam os reis da Terra Se opondo ao Senhor, Ele chamou o Seu escolhido
que já existia por toda a eternidade, e Lhe disse: "Tu és o meu Filho! Eu,
hoje, Te gerei". Assim, foi ungido o Messias como Rei. E então, foi
chamado de "Filho".
(7) Mas o que significa ser Jesus Cristo
o "Filho" de Deus? Este foi um grande problema para os judeus do
tempo de Cristo, porque eles não estavam satisfeitos pelo fato de que o
Salvador Se intitulava desse modo. Ele dizia frequentemente que era o Filho do
homem, mas também pretendia ser o Filho de Deus. O que significa isso? João explica
desse modo: os judeus queriam matar a Cristo porque Ele "dizia que Deus
era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus" (Jo 5:18).
Portanto, a pretensão de Jesus Cristo foi de que Ele era "igual a
Deus" com todos os Seus atributos, não criado nem originado, mas eterno.
4. Qual
é a promessa de Deus ao Messias,
constituído como Rei? Qual é a herança do Pai ao Filho? V. 8:
"Pede-me, e Eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra
por tua possessão." Mas, se Jesus Cristo é o próprio Criador,
e como tal é Dono de todo o mundo, como Lhe promete Deus a posse da mesma
Terra? De fato, como Deus Ele é o Dono do universo, mas como o Messias Jesus
Cristo é o Rei desta Terra. Como Messias, Ele é o Filho do homem e foi ungido
para a salvação deste planeta e recebe de Deus o reinado deste mundo.
5. Como seria o reinado do Messias? V. 9: "Com vara de
ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro." Esta profecia
há de se cumprir em sua fase apocalíptica, na destruição dos ímpios, e na
consumação dos séculos. O apóstolo Paulo usou estas palavras para descrever a
vinda de Cristo e seu efeito sobre os desprezadores de Sua graça (2Ts 2:8).
Finalmente, o apóstolo João também falou de Seu "cetro de ferro", em
um contexto da destruição dos ímpios que finalmente se confirmaram em sua
rebelião (Ap 12:5; 19:15).
IV – O ÚLTIMO APELO DIVINO (10-12)
Os versos finais (10-12) contém o último
apelo do Céu para os reis, governantes e povo em geral. Assim como o
Apocalipse tem o último apelo de Deus para o Seu povo, assim termina o Salmo 2,
com 5 imperativos:
(1) "Sede prudentes". Buscai a
sabedoria. Isto é indispensável para termos a segurança da felicidade e da
salvação. Não há mais a perder nas cisternas rotas das loucuras do mundo.
Carecemos de mais prudência.
(2) "Deixai-vos advertir". Muitos
não querem reconhecer os seus erros, e julgam difícil se deixar persuadir a fim
de receber a advertência divina. Isso requer que deixemos o orgulho de lado,
porque sem humildade não podemos conseguir nada diante de Deus.
(3) "Servi ao Senhor com temor". O
serviço de Deus é o mais alto privilégio de criaturas humanas; mas temos que
servi-Lo com temor, porque se trata de um serviço para o majestoso Rei dos
reis.
(4) "Alegrai-vos nEle com tremor".
Como podemos nos alegrar com tremor? A vida cristã é cheia de alegria, mas
servimos a Deus com temor, porque o temor é o equilíbrio necessário para não
nos desviarmos pelos caminhos deste mundo.
(5) Mas são particularmente interessantes as
palavras do último imperativo: "Beijai o Filho para
que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe
inflamará a ira." A ira mencionada é a ira do Cordeiro, diante da qual
todos os ímpios correrão, naquele dia da volta de Cristo dizendo aos montes e
rochas: "Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono
e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que
pode suster-se?" (Ap 6:16-17).
Portanto, o apelo divino é este:
"Beijai o Filho!" O beijo nos tempos antigos era um símbolo
de reconciliação, como no caso de Jacó e Esaú. O apelo para beijar o Filho
é um claro chamado à reconciliação com Deus, através da fé no sacrifício de
Cristo, que derramou o Seu sangue para nos reconciliar com o Pai: "Em nome
de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus." (2Co 5:20).
Finalmente, o clímax do Salmo 2
contém estas palavras: "Bem-aventurados todos os que nEle se
refugiam." Como o Salmo 1 se inicia com uma bem-aventurança, assim termina
o Salmo 2.
Houve nos Estados Unidos um juiz
famoso, porém ateu. Certa noite, estando fora de casa a esposa, sentiu-se
possuído de uma convicção de estar errado em relação a Deus e às coisas
espirituais e reais, e agora, que se achava sozinho, pôs-se a refletir sobre o
caso. Quando ela voltou, ele ainda estava imerso em meditações. Ela procurou
convencê-lo a dormir, mas ele não cedeu. Passou a noite em claro, andando para
cá e para lá.
Pela
manhã, bem cedo, foi para o escritório, fechou-se no gabinete, e deu ordens
para não o interromperem. Tomou a resolução de não sair por aquela porta antes
de ter descoberto a verdade acerca de Cristo. Prostrou-se de joelhos e começou
a orar. Fora educado de modo a considerar Cristo apenas como homem, de modo que
ao ajoelhar-se, orou: "Ó Deus, tem misericórdia de mim e salva-me!"
Continuou assim clamando muitas vezes, mas nenhum alívio lhe veio. Então ouviu
uma voz que sugeriu que ele dissesse: " - Deus, por amor de Jesus,
salva-me!
Mas
disse ele:
– Isso
não! Não posso orar assim!
Ali
jazia, literalmente estendido no soalho, de bruços, ansiando o alívio, mas só
conseguia dizer:
– Ó
Deus, salva-me!
Afinal,
do íntimo da alma angustiada, clamou:
– Ó
Deus, por amor de Jesus, salva-me!
– Oh
– diz ele agora – como a luz irrompeu e o Céu veio para dentro daquele
escritório!
Algo acontecera, e Deus viera em socorro de sua
vida, transformando-a toda, e desse dia em diante ele se tornou um dos mais
nobres membros da igreja. Não encontrara alívio enquanto não reconhecera que
Jesus é o Filho de Deus.
E você, já reconheceu a Jesus Cristo como o Filho
de Deus? Crê nEle, realmente? De fato, se queremos ser salvos, se queremos ser
realmente felizes, temos que seguir o bendito caminho de Deus e nos refugiarmos
no seu Messias, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Pr. Roberto Biagini
Mestrado em Teologia
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