Salmo 31 - O que Fazer Diante de Inimigos
Quem não possui inimigos? Parece que todos os têm. Mas se há
alguém que tem mais inimigos do qualquer pessoa, se há alguém que possui muito
mais adversários, esse é o cristão. O cristão tem inimigos na escola, no
trabalho, na vizinhança, dentro de casa, dentro da família, e muitas vezes até
dentro da sua própria igreja. O cristão tem inimigos até dentro de si mesmo.
Ele tem os próprios demônios que o perseguem tentando controlar a sua mente. O
cristão tem a sua própria natureza lutando contra ele mesmo!
Por isso, os Salmos são sempre muito atuais, cheios de conforto e
ânimo para os cristãos que vivem em nosso tempo, em que há perigo por todos os
lados. Neste salmo, podemos ver como agiram os inimigos de Davi em seu tempo, e
como ele reagiu diante dos seus adversários, e como é correto agirmos nós
diante de situações semelhantes.
O tom do salmo oscila entre lamento e ações de graças. Mas o
salmista está procurando a proteção divina (1-8) porque chegou até a ficar
doente (9-12) por causa das acusações que o pressionavam e de sua consciência
de pecado (13-18). Mas finalmente, ele louva a Deus por Sua bondade pela qual
ele é salvo e liberto (19-24). Portanto, o esboço natural é este: Oração
(lamento) e Ações de graças, e ambos mostram um extensivo uso de repetições
como um recurso literário:
I. Oração (vs. 1-18)
A. Oração pela Justiça de
Jeová (vs. 1-5)
B. Expressão de Confiança
(vs. 6-8)
A'. Oração pelo Favor de
Jeová (vs. 9-13)
B'. Expressão de Confiança
(vs. 14-18)
II. Ações de Graças (vs. 19-24)
A. Grandeza da Bondade de
Deus (v. 19)
B. Razão: proteção dos fiéis (v. 19-20)
A'. Grandeza da
Misericórdia de Deus (vs. 21)
B'. Razão: proteção do rei
Davi (v. 21-22)
III. Apelo (v. 23-24)
A. Amai a Jeová (v. 23)
B. Sede Fortes (v. 24)
Mas, se você quiser um esboço mais didático, mais fácil de seguir
para compreender e/ou pregar, então, me acompanhe nessas próximas divisões,
seguidas do comentário correspondente, nos textos indicados.
I – Os Atos dos Inimigos
1. Os Inimigos Praticavam a Traição:
Os ímpios armaram ciladas às ocultas contra Davi (v. 4), de tal modo que ele
horrorizado pôde dizer: “Tenho
ouvido a murmuração de muitos, terror por todos os lados; conspirando contra
mim, tramam tirar-me a vida.” (v.
13). Pelo contexto, parece que esta era a traição de Absalão, o próprio filho
de Davi que às ocultas conspirava contra o seu pai, a fim de lhe usurpar o
trono. “10 Enviou Absalão emissários secretos por todas as tribos de Israel,
dizendo: ‘Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão é rei em
Hebrom!’ 11 De Jerusalém foram com Absalão duzentos homens convidados, porém
iam na sua simplicidade, porque nada sabiam daquele negócio. 12 Também Absalão
mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, da sua cidade de Gilo;
enquanto ele oferecia os seus sacrifícios, tornou-se poderosa a conspirata, e
crescia em número o povo que tomava o partido de Absalão.” (2Sm 15:10-12).
Geralmente, a vítima é a última a saber do que se passa. Os homens
maus estavam conspirando e tramando contra o servo de Deus, buscando tirar-lhe
a vida, mas ninguém lhe dizia nada diretamente, apontando os nomes principais
da conspiração. Nesse momento, ninguém queria se envolver; ninguém sabia de
nada; havia apenas boatos. Mas havia muita murmuração, e atrás de todo boato há
um fundo de verdade. Isso tirou a paz, o sossego e a tranquilidade de Davi.
Hoje acontece o mesmo contra os filhos de Deus. Muitas vezes
estamos sendo traídos, sem mesmo desconfiar do perigo que nos cerca, por causa
de certas pessoas em quem confiamos. Há muita traição da parte de inimigos
desconhecidos, ou de pretensos amigos. Mas nós podemos repetir confiantes as
palavras do salmista, dirigindo-nos ao Protetor dos perseguidos: “Tirar-me-ás do laço que, às
ocultas, me armaram, pois Tu és a minha Fortaleza” (v. 4).
2. Os Inimigos Praticavam a Idolatria.
Eles eram idólatras: “adoram
ídolos vãos”, disse
o salmista (v. 6); eles não adoravam a Deus como Davi e todos os justos. Eles
adoravam aos ídolos de pedra, madeira e ouro. Em nosso tempo, eles são mais
sutis e adoram ao sexo, à tecnologia, aos artistas da televisão e do cinema, à
filosofia e ao dinheiro. Eles adoram a si mesmos e a Satanás.
Mas, embora ainda exista muita sutileza na adoração de falsos
ídolos, há muitos que ainda orientados pelo romanismo, adoram diretamente a
ídolos em suas procissões, e exaltam à virgem Maria como sendo a “mãe de Deus”,
conduzindo os seus ídolos que nada podem fazer. Multidões estão sendo enganados
por falsos líderes que estimulam essa idolatria de imagens de escultura que têm
boca, mas não falam; têm braços, mas estão inertes; têm ouvidos, mas nãos os
ouvem, e é o nosso dever adverti-los, a fim de que sejam salvos os que temem a
Deus, e O servem na ignorância.
Outros adoram os ídolos do paganismo, do budismo e do xintoísmo,
talhados em pau e pedra. Eles se esquecem do Deus que os criou, e ignoram as
evidências que demonstram que há um Deus de majestade e excelência, que não
pode ser adorado por imagens de escultura. Eles desatendem os apelos do
Espírito Santo convidando-os para a salvação.
3. Os Inimigos Praticavam a Ameaça. De acordo com o verso 21,
no contexto do Salmo 31, eles sitiaram a cidade de Jerusalém, a cidade de Davi,
e ele se encontrava em um grande perigo. Quando uma cidade antiga era sitiada,
faltava água e alimento, que se encontravam fora da cidade. E como
consequência, havia fome, crimes internos, como a morte de filhos para
satisfazer aos pais que os matavam para se alimentar. Havia revoltas, e muito
sofrimento, enquanto os inimigos sitiando a cidade zombavam deles e destruíam
as suas cearas e tapavam os seus poços, e ameaçavam entrar, destruir a cidade e
matar a todos. Mas Deus libertou a Davi e o seu reino desta situação aflitiva.
Ainda teremos de enfrentar a ameaça dos nossos inimigos antes da
volta de Cristo e após o milênio. Nesse tempo, os justos estarão dentro da
cidade querida, a nova Jerusalém, enquanto todos os ímpios do lado de fora
estarão nos ameaçando juntamente com Satanás, sitiando “a cidade querida” com
todos os preparativos de guerra para invadir a cidade de ouro e cristal. Mas
então, desce fogo do céu e consome a todos. Será a mais esmagadora derrota e
destruição de todos os ímpios de todos os tempos, para nunca mais se levantar a
angústia por duas vezes (Ap 20:7-10).
4. Os Inimigos Praticavam a Mentira.
No v. 18, o salmista revela o caráter desses homens: “Emudeçam os lábios mentirosos”;
eles são mentirosos, e devem ser calados: “que se cale toda boca, e todo o
mundo [de ímpios] seja culpável perante Deus.” (Rm 3:19).
Há muitos mentirosos em nosso tempo, mas você pode ter certeza de
que nenhum deles é cristão. Alguém pode se dizer cristão e ainda praticar a
mentira; mas isto é outra história. Pode haver um cristão professo e ser
mentiroso, mas não pode haver um cristão verdadeiro e ser mentiroso, porque os
mentirosos são filhos de Satanás. Disse Jesus Cristo, a uma classe de
mentirosos e hipócritas: “Vós sois do Diabo, que é vosso pai, e quereis
satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se
firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala
do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (Jo 8:44). Mas a
parte que cabe aos mentirosos é “o lago que arde com fogo e enxofre, a saber a
segunda morte.” (Ap 21:8).
5. Os Inimigos Praticavam o Orgulho.
No v. 18, o salmista continua ainda pintando o quadro do caráter dos inimigos: “Falam insolentemente contra o
justo, com arrogância e desdém.” Como
se não bastasse a mentira para serem punidos os ímpios, eles ainda adicionam à
mentira o pecado do orgulho, da arrogância e o desprezo dos filhos de Deus.
Mas, o salmista lembra que “o
Senhor preserva os fiéis, mas retribui com largueza ao
soberbo” (v.
23).
Não ficarão sem castigo aqueles que menosprezam os fiéis, falando
insolentemente contra eles e se levantando em tribunais para condená-los,
desprezando aqueles que são preciosos à vista de Deus. Esta é a promessa divina
para o cristão: “Toda
arma forjada contra ti não prosperará; toda língua que ousar contra ti em
juízo, tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor e o seu direito
que de Mim procede, diz o Senhor.” (Is
54:17).
II – Os Atos de Davi
O que deveria fazer Davi diante de tantos atos detestáveis dos
seus inimigos?
1. Davi confiava em Deus. “Em ti, Senhor, me refugio”. “Confio no Senhor.” “Quanto a
mim, confio emTi, Senhor. Eu disse: Tu és o meu Deus.” (v.
1, 6, 14)
Para Davi, Deus é SENHOR, Jeová (Yahweh, v. 1), que significa “o
Eterno”. Para Davi, Deus é o seu Refúgio (v. 1). Ele é o seu Castelo forte (v.
2), uma Cidadela fortíssima (v. 2), uma Rocha inquebrantável (v. 3), a “minha
Fortaleza” (v. 3, 4). Deus é o Pastor que conduz o justo pelo caminho da
justiça (v. 3). Ele é o Redentor (v. 5) que me redimiu. Ele é o “Deus da
verdade” (v. 5), em quem habita a plenitude do conhecimento. Ele é Onisciente,
e sabe de tudo o que se passa comigo, conhece a aflição de minha alma, as
angústias que me são tão próprias (v. 7). Sua presença é o esconderijo dos
justos (v. 20). Ele é a nossa única Esperança (v. 24)
Se nosso Deus possui tantas e infinitas qualidades, não é de se
admirar que Davi confie tanto nEle. O que é mais de admirar é que sendo Deus
como Ele é de fato e de verdade, haja tantos milhões que não podem confiar
nEle, porque confiam mais em si mesmos, fracos pecadores sem noção das
realidades da vida espiritual. Entretano, Deus é plenamente confiável; é Alguém
que não pode falhar, fiel em todas as Suas múltiplas promessas da esperança,
poderoso para cumprir tudo o que disse para o nosso bem eterno. Assim como o
salmista, sempre podemos confiar em Deus.
2. Davi clamou por libertação. Ele disse: “Tirar-me-ás do laço que, às
ocultas, me armaram”. “Pois tenho ouvido a murmuração de muitos, terror por
todos os lados; conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida.”
(v. 4, 13). Ele era vítima de traição de seus próprios súditos e oficiais, além
de ter sido traído por seu próprio filho Absalão, que procurou matá-lo para lhe
usurpar o trono. Então, ele clama desse modo: “Livra-me
por tua justiça. Inclina-me os ouvidos, livra-me depressa!” “Livra-me das mãos
dos meus inimigos e dos meus perseguidores.” (vs.
1-2, 15úp).
“Livra-me depressa!” Davi
se sentiu acossado, pressionado de todos os lados, e pediu que fosse liberto
“depressa”. A pressa do pedido indica o aperto e a intensidade da aflição.
Quanto maior é a dor, maior é a pressa por alívio, mais pressa por socorro. Davi
pediu um “pronto socorro” numa libertação imediata e eficaz.
Entretanto, “a pressa é inimiga da perfeição”. Deus estava
testando o seu servo a fim de que ele percebesse que a sua confiança ainda era
fraca, e devia esperar e suportar um pouco mais a aflição, a fim de que pudesse
se fortalecer. Disse Davi, reconhecendo isso mesmo: “Eu disse na minha pressa:
estou excluído da Tua presença!” (v. 22). Mas mesmo quando nossos
amigos, vizinhos e conhecidos nos esquecem e nos desprezam e nos alienam de sua
presença (11-12), Deus nunca nos abandona. Davi vacilou em sua angústia. “Não obstante,” reconheceu ele,
imediatamente:“ouviste a minha súplice voz!” (v. 22).
Quão precipitados somos muitas vezes, para julgar a Deus que é tão
compassivo para conosco. Agar tinha sido despedida do seu lar, onde habitava
como serva de Sara e de Abraão, com quem tivera um filho que atendia pelo nome
de Ismael. Mas foram ambos, mãe e filho mandados embora pelo deserto de
Berseba, porque a convivência deles não era mais suportável, visto que Ismael
zombava de Isaque, o filho da promessa.
Lá estavam agora num deserto, sem água e sem alimento. Então,
chegou o momento crítico, em que Agar colocou o menino Ismael, seu filho, a uma
distância razoável, para que não visse morrer o menino. E chorou. “Mas Deus
ouviu a voz do menino; e o Anjo de Deus chamou do céu a Agar e lhe disse: Que
tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino, daí onde está.
Ergue-te, levanta o rapaz, segura-o pela mão, porque eu farei dele um grande
povo.” (Gn 21:17-18).
Agar chegara a um ponto em que não podia fazer nada mais, senão
chorar. Não havia recursos naquele deserto, não havia possibilidade de
sobrevivência. Somente um milagre poderia salvar o seu filho. E ela, em
profunda angústia, desesperando até da vida, chorou, sem se lembrar de que no
Céu há um Deus de amor que cuida dos Seus filhos. Quão apressados somos muitas
vezes para nos considerar alienados dos planos de Deus.
3. Davi orou a Deus. Davi era um homem de
oração. Ele orava muitas vezes, clamando, invocando, suplicando, adorando,
externando suas aflições, derramando a sua alma diante de Deus, em Quem ele
tanto confiava e esperava respostas para as sua preces, dizendo: “Inclina para
mim os Teus ouvidos (v. 2). Ele tinha a certeza de que Deus ouvia as sua preces:
“Ouviste a minha súplice voz, quando clamei por teu socorro” (v. 22).”
(1) Davi
orou pela vitória. Esta parecia ser a situação mais embaraçosa
que poderia ter vindo a Davi. Ele estava sendo humilhado por seu próprio filho
Absalão (2Sm 15:10-12). Quando dois exércitos se enfrentam, a vergonha virá
certamente ou para um ou para outro. Mas Davi se apega a Deus e Lhe diz,
iniciando o salmo com estas palavras: “Não
seja eu jamais envergonhado” “Não seja eu envergonhado, Senhor, pois te
invoquei” (v.
1,17).
É uma situação muito embaraçosa ser envergonhado ou confundido,
mas ele argumenta com Deus e Lhe diz por que Ele devia atender à sua prece: “pois Te invoquei!” Esta é a maior razão, este é
o maior argumento que temos a nosso favor para dizer a Deus que nos atenda –
porque O invocamos, a Ele o Soberano dos reis da terra, o Salvador dos aflitos,
Aquele que morreu por nós na Cruz do Calvário, e está disposto a socorrer a
todos os que O invocam. Disse Ele: “Invoca-me no dia da angústia; Eu te
livrarei, e tu me glorificarás.” (Sl 50:15). “Invoca-me, e te responderei;
anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes.” (Jr 33:3). “Porque:
Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Rm 10:13).
Davi coloca a vergonha nos ombros merecidos dos ímpios: “Envergonhados sejam os
perversos, emudecidos na morte. Emudeçam os lábios mentirosos, que falam
insolentemente contra o justo, com arrogância e desdém” (v. 17-18). Vergonha era o
vexame dos derrotados. Davi ora contra aqueles
que eram não só os seus inimigos, mas eram também adversários de Deus, porque
eram idólatras (v. 6) e perseguidores dos Seus filhos (v. 15). E Davi faz uma
prece clamando pela vitória esmagadora contra os inimigos de Deus, a fim de que
a vergonha seja o seu manto e o opróbrio o seu vestido.
(2) Davi
orou por compaixão, e dá as razões: “Compadece-te de mim, Senhor,
porque me sinto atribulado; de tristeza os meus olhos se consomem, e a minha
alma e o meu corpo. Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos, em
gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniqüidade, e os meus
ossos se consomem. Tornei-me opróbrio para todos os meus
adversários, espanto para os meus vizinhos e horror para os meus conhecidos; os
que me vêem na rua fogem de mim. Estou esquecido no coração deles, como morto;
sou como vaso quebrado.” (v.
9-12).
Davi se sentia atribulado e triste; passava por um momento de
profunda melancolia, sentida no mais íntimo de sua alma, perdendo suas forças
físicas. Sua vida se consumia em gemidos e na fraqueza de seus ossos, sofria as
dores mais lancinates. Ele estava doente. Era um momento de intensa depressão.
E para aumentar os seus sofrimentos, os seus conhecidos, amigos e vizinhos o
alienaram, o abandonaram, além de ser ridicularizado e considerado como
opróbrio perante os seus adversários.
E ele dá a razão para todo esse estado de coisas: “por causa da minha
iniquidade” (v.
10). Compaixão é para quem peca. Porque o pecado nos leva à miséria, e
precisamos de compaixão para sermos restaurados e perdoados. Se Deus nos dá a
compaixão, nos perdoa e nos restaura, então teremos muita força contra os
inimigos. Então, Davi pediu a compaixão amorosa de Deus, o perdão completo dos
seus pecados e foi atendido (v. 22), porque Deus nunca desampara os Seus filhos
que Lhe pedem a compaixão e o perdão. Se nos aproximarmos dEle com nosso
humilde pedido de compaixão, Ele Se aproximará de nós com o Seu grande e
exorbitado amor.
(3) Davi
orou por salvação. Deus era para Davi “cidadela fortíssima que me
salve” (v.
2). “Salva-me
por Tua misericórdia.” (v.
16). Há os que pregam hoje que a salvação no Antigo Testamento era pelas obras,
e que a salvação no Novo Testamento é pela graça. Mas o salmista diz: “Salva-me
por Tua misericórdia.” Misericórdia é compaixão despertada pela miséria alheia.
Misericórdia é a graça de Deus se manifestando pela miséria do homem. Mas o
mesmo salmista já dizia no Salmo 6:4: “Salva-me
por Tua graça.” Davi
conhecia o plano de Deus e não confiava em suas obras para obter a salvação. De
fato, “porque
pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;
não de obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2:8-9).
A doutrina da salvação pelas obras é uma doutrina estranha que não
é ensinada pela Bíblia. Desde que o pecado entrou no mundo, a salvação foi
oferecida pela graça de Deus que desdobrou o plano da salvação logo aos nossos
primeiros pais. Falando no Jardim do Éden, onde aconteceu para primeiro e
principal pecado, porque decisivo, disse Deus: “Porei inimizade entre ti [Satanás] e a mulher[a
igreja], entre a tua descendência [os
filhos do Diabo (Jo 8:44)] e o
seu descendente [Jesus
Cristo, Filho da igreja (Gl 3:16)]. Este [Jesus] te ferirá a cabeça [após o milênio], e
tu lhe ferirás o calcanhar [na
Cruz].” (Gn
3:15). Estas palavras dirigidas à serpente, contém o princípio do concerto da
graça, pela qual todos os homens poderiam obter a salvação.
4. Davi se entregou a Deus. “Nas tuas mãos, entrego o meu
espírito.” “Não me entregaste nas mãos do inimigo.” “Nas tuas mãos, estão os
meus dias.” (v.
5, 8, 15pp). Davi se entregou nas nas mãos de Deus, inteiramente. Ele temia as
mãos assassinas dos ímpios e perversos. Ele reconhece a libertação das mãos dos
inimigos do passado, e confia presentemente que Deus o livrará das mãos dos
inimigos no futuro.
Cristo mesmo usou as palavras proféticas de Davi. Quando o
Salvador do mundo pendia na Cruz do Calvário, quando havia trevas espessas,
relâmpagos e trovões, quando Jesus Cristo sentiu a angústia suportada pelos
nossos pecados, quando fora abandonado por todos, sentindo a ira divina sobre
Si mesmo, e sentindo que a morte estava chegando, Ele ainda pôde Se entregar a
Deus:“Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito! E, dito isto, expirou.” (Lc
23:46).
Tal exemplo de renúncia, desprendimento e abnegação deve ser
seguido por todos. Davi, quando foi ameaçado por seus inimigos, ele entregou o
seu espírito a Deus, entregou todos os seus dias, e estava pronto a morrer se
isso fosse a vontade de Deus. Mesmo Cristo, o Filho amado de Deus Se entregava
diariamente a Deus para que se cumprisse a Sua vontade nEle. Mas ao
chegar a hora da morte, mesmo sofrendo a ira divina sobre Si mesmo, Ele foi
pronto a Se entregar a Deus, e confiar em Sua eterna justiça. E quanto a nós?
Estamos dispostos a nos entregar inteiramente ao nosso amorável Criador e
Redentor? Já fizemos uma entrega sem reservas ao nosso Deus?
5. Davi se regozijava. “Eu me alegrarei e
regozijarei na tua benignidade, pois tens visto a minha aflição, conheceste as
angústias de minha alma e não me entregaste nas mãos do inimigo; firmaste os
meus pés em lugar espaçoso.” (v.
7-8). Davi se alegra na bondade de Deus porque tinha visto a sua aflição frente
aos seus inimigos e o livrou deles. A vida dos cristãos é cheia de alegria, não
por algum divertimento banal, não por causa das ilusões do mundo, mas porque
Deus está sempre nos livrando de nossos inimigos espirituais. Ele firma os
nossos pés em terreno seguro, de tal modo que podemos andar confiantes.
6. Davi louvava a Deus. “Bendito
seja o Senhor, que engrandeceu a Sua misericórdia para comigo” (v. 21). Ele não só se alegrou na
bondade, mas louvou a misericórdia de Deus, porque esta se engrandecera
sobremaneira. Mas em que circunstâncias Davi pôde contemplar a misericórdia de
Deus engrandecida? “Numa cidade sitiada!” Quando Jerusalém foi sitiada e
cercada, quando Davi estava sendo ameaçado por seus inimigos, ele viu a
misericórdia divina, salvando a si mesmo e a todo o povo da aliança divina.
Quando Jerusalém mais tarde foi sitiada pelo exército romano, no
ano 70 DC, os cristãos puderam ver a misericórdia de engrandecida
sobremaneira, porque todos eles foram preservados e salvos. E quando a cidade
da nova Jerusalém for novamente sitiada pelo mais numeroso exército de todos os
tempos, sitiada por um número de inmigos tão numeroso como a areia do mar,
então, os justos novamente poderão louvar a misericórdia de Deus que será
infinitamente engrandecida numa vitória esmagadora contra Satanás, seus
demônios e todos os ímpios.
7. Davi apelou aos justos. No verso 23, Davi faz um
apelo veemente a todos os que temem a Deus: “Amai
o Senhor, vós todos os seus santos.” Este
é o maior apelo encontrado na Bíblia: Temos que amar Aquele que nos amou antes
da fundação do mundo, porque nos amou primeiro. E amor desperta amor. Se Deus
nos amou, Ele espera que nós O amemos também, embora não exija isso. Mas para o
nosso bem eterno, Ele nos aconselha que O amemos também.
Como devemos amar a Deus? João nos deixou claro esse ponto, quando
disse: “Porque
este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; ora, os seus
mandamentos não são penosos.”(1Jo 5:3). Cristo repetiu as
palavras que Ele mesmo havia dito no passado a Moisés: “Amarás o Senhor, teu Deus,
de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.” (Mt 22:37). Mas, para não nos
deixar nenhuma dúvida, Deus relacionou o amor à adoração em forma de
mandamentos. Os Dez Mandamentos foram dados para que soubéssemos como amar e
adorar a Deus.
Mas apesar de termos muitas razões para amar a Deus, o salmista
enfatiza também a nossa esperança: “Amai
o Senhor...”, e
logo dá a razão: O
Senhor preserva os fiéis, mas
retribui com largueza ao soberbo.” (v. 23). Estas palavras podem
ser entendidas num contexto imediato para quem está sofrendo a perseguição de
algum inimigo. Mas também podem ser entendidas de modo mais amplo, ou seja:
Deus nos preserva para o seu Reino eterno, e fará isso de modo especial na
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, quando virá para levar os fiéis ao Céu, e
para retribuir aos injustos toda a injustiça feita por eles contra os justos, e
então, serão destruídos todos os ímpios.
8. Davi encorajou aos cristãos, no v. 24: “Sede fortes, e revigore-se o
vosso coração, vós todos que esperais no Senhor.” Estamos vivendo nos últimos
dias da história deste mundo agitado. Nunca a igreja se viu tão ansiosa pelo
retorno de Cristo; jamais esteve tão empenhada em trabalho missionário para
proclamar a volta do Senhor Jesus Cristo. Jamais se falou tanto de esperança
como agora, quando até os tímidos estão pregando que a nossa esperança está por
se concretizar, em breve. Mas também enfrentamos muita oposição da parte de
muitos falsos cristãos que dizem estudar a Bíblia, mas negam os seus ensinos. Sabemos
que a ira de Satanás contra a igreja remanescente há de se intensificar.
Portanto, as palavras de encorajamento escritas 1.000 anos AC nos
chegam como um bálsamo: “Sede
fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no Senhor.” (v. 24). Você espera no
Senhor? Então, deve ser forte, confiando na força do Seu poder. Você espera
mesmo no Senhor? Então, deve revigorar o seu coração num grande reavivamento da
alma. Como? Basta confiar e buscar a Jesus Cristo que derramou o Seu precioso
sangue em seu lugar, e enviou o Seu Espírito para produzir esse reavivamento.
Pr. Roberto Biagini
Mestrado em teologia
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