Jornada Espiritual 10 Dias de Jejum e Oração- 8º Dia
A oração do corpo
De que maneira o jejum pode ajudar a aprofundar nossa
experiência com Deus?
Um pressuposto indiscutível do crescimento espiritual é
o desejo que deve ter o cristão de permanecer na presença de
Jesus, desde a primeira até a última hora de cada dia. Considerando a
existência de muitos afazeres que tentam subtrair o tempo que deve
ser dedicado à comunhão com Deus, e coisas que tendem a nos distrair em
relação às prioridades da vida espiritual, é forçoso reconhecermos que tal
permanência requer sólida disciplina pessoal. Mas o Senhor pode e quer nos
abençoar em nossa decisão de dar a Ele o primeiro e o último lugar em
nossa vida.
Entre muitos recursos que ajudam a aprofundar nossa experiência
com Deus, está o jejum. Como disciplina espiritual, ele é defendido e
praticado pelos mais diferentes segmentos religiosos. Até mesmo entre
as religiões pagãs, o jejum era praticado como forma de
preparação para o encontro com uma divindade. Seus praticantes
acreditavam que essa experiência proporcionava abertura para a influência
divina.
Atualmente, além dos cristãos, outros grupos religiosos
também costumam jejuar. Entre esses grupos, podemos mencionar os
islâmicos, que promovem o jejum no mês de Ramadã, quando comemoram
a entrega do Alcorão por Alá.
No cristianismo, o jejum tem sido praticado de maneiras
diferentes e também por motivos diversos. Por isso, necessitamos
entender o que é e o que não é o jejum, a relevância dele no
ministério de Cristo, qual é seu sentido amplo e a importância
dessa disciplina em nosso preparo diário, predispondo nossa mente
para tornar mais efetiva a comunhão com Cristo.
O que não é
Primeiramente, o jejum não é penitência, expiação de pecado,
sacrifício para eliminar a culpa, aflição, tormento ou ato praticado com
o objetivo de alguém demonstrar que é mais santo que os semelhantes.
As Escrituras deixam bem claro que o perdão e a purificação resultam
do verdadeiro arrependimento, confissão e abandono do pecado. Isto é
o que diz a Palavra de Deus: “Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos
purificar de toda injustiça” (1Jo 1:9).
O jejum também não é um ritual público de tristeza reveladora
de superioridade. Nos dias de Cristo, os fariseus costumavam jejuar
para mostrar uma fachada de “santidade”. Mas o que revelavam
exteriormente não correspondia ao que carregavam interiormente, pois
o coração deles estava longe de Deus. Em Seu ensinamento, o Salvador
atingiu o ponto certo dessa questão, advertindo-nos para que não viéssemos a
cair no mesmo erro. Disse Ele: “Quando jejuarem, não
mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a
aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão
jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena
recompensa” (Mt 6:16).
O jejum não é greve de fome. Ele não deve ser usado com o
objetivo de chamar a atenção de Deus, a fim de simplesmente conseguir
coisas. Através do profeta Isaías, o Senhor condenou essa atitude.
Primeiramente, descreve o clamor dos que jejuavam: “Por que jejuamos”,
dizem, “e não o viste? Por que nos humilhamos, e não reparaste?” No fim do verso, é explicada a razão pela qual
o Senhor não aceitava o que eles faziam: “Contudo, no dia do seu
jejum vocês fazem o que é do agrado de vocês, e exploram os seus
empregados” (Is 58:3).[...]
O que é
O sentido teológico do jejum transcende à prática da
abstenção alimentar durante determinado período de tempo. Segundo o
Westminster Dictionary of Christian Spirituality, “o jejum é a oração
do corpo; afirmando a totalidade de uma pessoa numa ação espiritual;
dá ênfase e intensidade à prece, expressando, especificamente fome de Deus e de
Sua vontade. Afirma a bondade da criação por significar a rendição
temporária do gozo de alguns de seus benefícios, e, portanto, sempre
inclui um elemento de gratidão” (citado por Madeline S. Johnston,
Ministério maio/junho de 1995), p. 9). Ao jejuar, a pessoa se priva
daquilo de que gosta e que lhe satisfaz, entregando-se totalmente à
comunhão íntima com seu Criador e Redentor.
Essa comunhão é desenvolvida e alimentada na presença de
Deus. Nela, ouvimos Sua voz, por meio da leitura da Bíblia, e falamos
com Ele, reagindo ao que nos diz e Lhe abrindo nosso coração. Nesse
relacionamento, podemos notar o verdadeiro sentido do jejum. “Para certas
ocasiões, o jejum e oração são recomendáveis e apropriados. Na mão de
Deus são o meio de purificar o coração e promover uma disposição de
espírito receptiva. Obtemos resposta às nossas orações porque
humilhamos nossa alma perante Deus… O espírito do verdadeiro jejum e
oração é o espírito que rende a Deus mente, coração e vontade”
(Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 187, 189).
O jejum pode ser total ou parcial. Jejum total é aquele em
que a pessoa se abstém de todo tipo de alimento, durante determinado
período de tempo. Parcial é quando se faz uso de frutas, sopas,
caldos, sucos naturais, nos horários reservados para refeições. A
utilização da água deve ser normal em qualquer das opções.
O exemplo de Jesus
Imediatamente depois de haver sido batizado e antes de
iniciar Seu ministério terrestre, Jesus Cristo jejuou “quarenta dias e
quarenta noites” (Mt 4:2) nos deixando um grande exemplo. [...]
Por meio da abnegação e da temperança, Cristo colocou sob
controle o apetite e mostrou que não havia justificativa para que
Adão e Eva caíssem no pecado, pela satisfação do apetite. Assim, no ponto
em que eles falharam, Cristo venceu e deixou o sublime exemplo de que
não há razão para que Seus seguidores rompam o relacionamento com Ele.
Não foi sem luta que Jesus venceu e subjugou o apetite. O
adversário usou as mesmas armas que levaram nossos pais à queda (No
Deserto da Tentação, p. 80). Mas o Salvador Se firmou no poder da
Palavra com a qual rechaçou a investida satânica: “Nem só de pão viverá o
homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4). Com essas palavras, Cristo deixou clara a receita para
vencermos as confederações satânicas nos momentos de tentação: Comunhão
com Deus por meio do estudo da Bíblia, oração e jejum.
Mais do que abstinência
O capítulo 58 do livro do profeta Isaías apresenta um
conceito ampliado do jejum. Nesse texto, jejuar é mais do que abstenção de
alimentos. É uma disciplina que aprofunda o compromisso com um estilo de
vida segundo o modelo de Jesus Cristo. Ele viveu como amigo de todas
as pessoas e classes; amava a todos e Seu amor ultrapassava o limite
das palavras.
“O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa
que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles,
ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então:
‘Segue-Me’.” (A Ciência do Bom viver, p. 143).
Através do profeta, assim diz o Senhor: “O jejum que desejo não
é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo,
pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua
comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou,
e não recusar ajuda ao próximo?” (Is 58:6, 7). Assim sendo, o
espírito de comunhão, compaixão e amor que acompanha a pessoa
na prática do jejum deve permanecer com ela em todos os seus
relacionamentos sociais, familiares, profissionais, bem como na maneira de
tratar o necessitado. O jejum tem sentido apenas na medida em que nos
leva a uma experiência de santificação crescente, que se expressa em
todas as áreas da vida.
Conforme temos visto até aqui, o jejum contribui para
aprofundar nossa comunhão com Deus. Essa é uma prática cujos
benefícios específicos e físicos são incalculáveis. Com segurança, podemos
afirmar que o caminho do preparo diário para o encontro com Jesus, em
Sua segunda vinda à Terra, passa pelo estudo da Bíblia, oração e jejum habitual.
Bruno Raso – Vice-presidente da
Divisão Sul-Americana. Publicado na Revista Ministério, Mar/Abr-2012.
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